segunda-feira, agosto 28, 2006

Cunha Leal: "Há um poder que não devia existir"

O director executivo da Liga de clubes (LPFP), Cunha Leal, pediu hoje o afastamento da presidência do organismo de Valentim Loureiro e instou a Federação a que "chame a si as responsabilidades" na resolução do chamado "caso Mateus".
Cunha Leal reafirmou, em conferência de imprensa realizada em Lisboa, a sua convicção de que foi "um acto errado" a suspensão dos dois encontros com as equipas envolvidas - Gil Vicente, Belenenses e Leixões - e admitiu que em última instância a FIFA pode vir a suspender o futebol português das competições internacionais.
O ainda director executivo da Liga interrogou-se sobre as razões que estão a impedir que os novos órgãos sociais da LPFP tomem posse após as eleições de 10 de Agosto e foi peremptório: "há um poder que não devia existir".
A conferência de imprensa realizou-se na sala Porto do hotel Altis porque, explicou Cunha Leal, a intenção era "parecer que estávamos na sede da Liga (que é no Porto)".
"O presidente da Liga devia demitir-se e ir embora", reiterou Cunha Leal, acrescentando: "O que ele fez é mau demais para o futebol português".
O director executivo entende que foi um "acto errado, oposto ao que devia fazer o máximo dirigente do futebol português", que devia ter zelado pelo regular funcionamento das competições profissionais, uma vez que os órgãos jurisdicionais da Liga e da FPF tomaram decisões unânimes no sentido da despromoção do Gil Vicente.
"O Gil Vicente não foi admitido à principal competição da Liga. Foi relegado à Liga de Honra", defendeu, sublinhando que à "luz dos regulamentos desportivos, foi feito caso julgado desportivo".

"Interesse público"
Em relação à última providência cautelar apresentada pelo Gil Vicente, Cunha Leal entende que o Tribunal Administrativo não deu provimento à pretensão do clube para que produzisse efeitos desportivos, pelo que a LPFP deveria ter invocado o "interesse público" para que a "normalidade da competição" não fosse afectada.
Por tudo isto, o responsável da Liga aponta culpas para Valentim Loureiro e pediu o seu afastamento, instando ainda a FPF para que "chame a si as responsabilidades" na resolução do caso e "agarre" a condução do futebol português.
"Não acredito que a direcção da federação tomasse esta decisão", sustentou.
Uma das mais graves acusações de Cunha Leal foi o alegado pedido de Valentim Loureiro ao presidente da Assembleia Geral da Liga, Adriano Afonso, para que seja feita a recomposição dos três membros em falta da comissão de disciplina da LPFP.
"Disse-me há pouco o senhor presidente da Assembleia Geral que a senhora secretária geral, em nome do senhor presidente, lhe tinha telefonado para que nomeasse outros membros para a comissão disciplinar. Para quê? Para tornear a interpretação que ele faz aquilo que foi a posição da juíza (no caso da providência cautelar do Gil Vicente)", explicou.

Caos lançado sobre o futebol
As críticas que se seguiram centraram-se também no arrastamento do processo de tomada de posse dos órgãos eleitos no sufrágio de 10 de Agosto. "Parece que não há uma nova comissão disciplinar, não há uma nova comissão executiva. Se calhar, daqui a um ano, ainda lá estão todos... todos menos eu, talvez seja essa a ideia".
"Há um poder que não devia existir. Tudo se passa como se não tivesse havido eleições", referiu, sublinhando que, apesar de continuar em funções, o seu mandato de quatro anos deveria ter terminado a 11 de Agosto.
O director executivo respondeu também às acusações de Valentim Loureiro sobre o seu elevado salário e para o facto de ter entrado de férias (21 a 28 de Agosto), numa altura em que a temporada 2006/07 estava prestes a arrancar.
Cunha Leal disse que recebe menos do que o anterior ocupante do cargo, Guilherme Aguiar, e, ao contrário deste, não recebe "avenças de participadas da Liga".
Por outro lado, o director executivo sempre expressou publicamente a sua posição sobre o caso, não lhe tendo sido sequer permitido pelos serviços da Liga que fosse publicitado o seu parecer sobre a matéria.
O "caos lançado sobre o futebol português" não tem fim à vista, na opinião de Cunha Leal, que no balanço de quatro anos de actividade sempre garantiu total "isenção" e "imparcialidade" para com todos os clubes nacionais.