sábado, setembro 02, 2006

"Caso Mateus": António Fiúza recorda todos os passos do processo

António Fiúza, presidente do Gil Vicente, explicou, ao longo de uma entrevista à RTP, todos os contornos do «caso Mateus». Aqui ficam as alegações do clube gilista, passo a passo, em discurso directo:

«Contratamos o Mateus ao Lixa e fizemos um contrato com ele, que é estrangeiro. Para estar em Portugal, tem de ter contrato colectivo de trabalho. Aliás, no seu passaporte, Mateus está classificado como trabalhador-desportivo. Mais tarde, quando pedimos esclarecimentos ao Lixa, viemos a descobrir que o Lixa tinha contrato com ele como contínuo, com descanso semanal ao sábado e domingo e a ganhar 374.70 euros. Depois, tinha um contrato paralelo para ele ser inscrito como amador na Federação Portuguesa de Futebol. Como é possível a Federação aceitar um jogador estrangeiro como amador? A Federação pactuou com a fuga aos impostos. É a sexta época que o Mateus está em Portugal, sempre como jogador profissional, primeiro no Sporting e depois no Felgueiras.»

«Fizemos uma exposição à Federação para anular o contrato de amador. Recebemos, a 12 de Janeiro um fax da Federação, que estou a mostrar e que esta nunca assumiu. Nesse fax, a Federação diz o seguinte: A existência de um contrato, simulado ou não, não é da competência da Federação. Na verdade, essa é uma competência dos tribunais. Se houve prática ilícita, deve a entidade interessada accionar os mecanismos judiciais.»

«A Federação quis fazer uma cilada ao Gil Vicente. Em vez de enviar este fax, enviaria outro a explicar que não devíamos recorrer aos tribunais. Esta é uma questão administrativa e, como tal, nem tínhamos necessidade de recorrer à Federação. A Lei de Bases do Desporto é explícita. O Mateus queria jogar, passou uma procuração ao seu advogado e foi para o Tribunal Administrativo do Porto. O Tribunal de Braga não tinha dado, antes, razão ao Gil Vicente porque entendeu que não era uma questão urgente. Na altura, o Mateus foi inscrito na Liga, de forma provisória, por ordem do Tribunal Administrativo do Porto.»

«Tenho aqui a acta, nº 64, de 1 de Junho, e nada refere aqui sobre o caso Mateus, apenas na generalidade. Houve uma reunião em Lisboa e, no final, Gomes da Silva (ex-presidente da Comissão Disciplinar da Liga), Domingos Lopes (ex-elemento da C.D. da Liga) e Rui Vieira (secretário da Liga) regressaram ao Porto de comboio. Depois disso, Cunha Leal (director-executivo da Liga), Pedro Mourão (elemento da C.D. da Liga) e Frederico Cebola (elemento da C.D. da Liga) fizeram um acórdão num restaurante ao lado do Hotel Altis. Cunha Leal levou esse acórdão para o Porto na segunda-feira. A Polícia Judiciária já devia ter investigado isto. Não houve a votação com os elementos todos e esses senhores nem viram um relatório elaborado por João Faria Gaio, com cerca de 500 páginas, que foi entregue a 1 de Junho na Liga e anexado ao processo no dia 2.»

«Quando Gomes da Silva e Domingos Lopes se aperceberam da cabala, decidiram actuar. Domingos Lopes votou porque o seu pai se demitiu do Gil Vicente. Quando o Conselho de Justiça da Federação impediu Domingos Lopes de votar, devolvendo o processo à Comissão Disciplinar, Frederico Cebola e Pedro Mourão tinham apresentado as demissões e há provas de que Adriano Afonso (presidente da Assembleia Geral da Liga) as aceitou. Entretanto, foram repescados para votar contra Gomes da Silva que, face a isto, apresentou a demissão. Adriano Afonso nomeou um colega de curso de Cunha Leal para haver quórum e, a 1 de Agosto, já todo o país sabia que a votação seria desfavorável ao Gil Vicente.»

«O povo de Barcelos está martirizado. Pela verdade, pela razão e pela justiça, devemos levar o caso até ao fim. No próximo dia 7 de Setembro, em Assembleia Geral Extraordinária, os sócios irão decidir o que querem para o clube.»