sexta-feira, setembro 01, 2006

Mateus, a obra da Tia Engrácia


No Bairro da Samba, Luanda, dividem-se as dificuldades. Por isso, Mateus Galiano (Kuanza Norte, 17/06/1984), o jogador que está no centro do caso que abala o futebol português, foi criado pela Tia Engrácia, enquanto no Morro da Luz, o pai António e a mãe Laurinda retiravam do mar o sustento para os os outros quatro filhos. O varão ficava a cargo da irmã da mãe, roubando à paixão pela bola tempo para nas obras atenuar a pobreza.
"Ele fugia e eu tive que ir atrás dele para o levar para Portugal", relata ao DN Adão Costa, representante do jogador "tímido e de poucas falas" do Gil Vicente. Mateus destacou-se nos jogos de bairro. "Eu vi que ele tinha talento, um amigo disse-me o mesmo. Quando é assim, entendo que só em Portugal é que eles têm condições para jogar futebol", prossegue o "Tio Adão", ou "Cota", como Mateus o trata. Por isso foi atrás dele, já depois de uma curta passagem pelo 1º de Agosto. Foi juvenil e inscrito sem jogar pelos juniores e Mário Calado, ex-seleccionador angolano e responsável pelos seniores, reparou nele. Mas não teve tempo.
Adão Filipe trouxe-o para Portugal aos 17 anos. "Começou a treinar no Barreirense e depois coloquei-o no Desportivo de Beja". José Brás da Silva, amigo de Adão, fez a ponte com o Sporting. E Mateus, um avançado "certeiro" que "na área com a bola só passa certidão de óbito", como o define o empresário, esteve uma época na equipa B de Alvalade. O fim do projecto leonino levou-o ao Casa Pia, mas "as dificuldades financeiras do clube de Pina Manique deixaram-no "no desespero", segundo o amigo de infância Joaquim Clemente. E, aí, José Fonte (no Estrela por empréstimo do Benfica), sugeriu-o a Luís Miguel, então técnico do Felgueiras. O clube extingue o futebol, Mateus recomeça de novo. No Lixa. "O prazo de inscrições estava a acabar e inscreveram-no como amador", diz Clemente. "O Gil sabia disso e inscreveu-o como profissional", diz Adão Costa. Um jogo da Taça frente ao Benfica convence os minhotos, que o contratam em Dezembro de 2005.
Hoje, segundo Adão Costa e Joaquim Clemente, Mateus "está afectado" por ver o nome manchado "sem responsabilidade". Por isso a "moral" não será a melhor quando hoje regressar a Luanda, chamado pela selecção que o levou ao Mundial 2006.