sexta-feira, setembro 01, 2006

Opinião: Rui Hortelão*

Criaram-se as Sociedades Anónimas Desportivas, os clubes entraram na Bolsa, as transferências dispararam na rampa dos milhões e os jogadores portugueses atingiram altos mares nunca antes navegados. Organizámos o Euro’2004 e brilhámos no Mundial 2006. Mas nada disto, nem isto tudo junto, curou os responsáveis do futebol português do vício da polémica.
Entre cada jornada, a mediocridade passeia-se nas palavras dos dirigentes. Fazem gala no discurso brejeiro, tonto e populista, e delapidam uma preciosa fonte de receita para o País. Como os responsáveis dos organismos que tutelam o futebol – Liga e Federação – são igualmente adidos da polémica, o esgoto em que há muito se transformou o futebol português extra-relvados corre a céu aberto. Observado de cima pelos políticos, que só aparecem quando dá jeito (e votos) e preferem passar por parvos do que arriscar um confronto com os simpatizantes deste ou daquele clube.
Desta vez, a incúria de uns e o encolhimento foi longe de mais. O dia do juízo final – anunciado há anos – esteve para ser ontem. A FIFA condescendeu e adiou a sentença para hoje. A culpa não é do Gil Vicente; do Belenenses, do Leixões; de FC Porto, Sporting e Benfica (que já se deviam ter unido para defender a sua posição na liga dos milhões), a Liga, a FPF ou o Governo. A culpa é de todos! Porque todos contribuíram para esta nódoa de vergonha.
Não fossem os adeptos (à parte dos que merecem estar no grupo anterior) e os (raros) verdadeiros profissionais de futebol, e quase apetecia clamar à FIFA que mandasse avançar os glutões do Presto.

*-Subdirector do Jornal Correio da Manhã