Apito Dourado: Corrupção no futebol vai até aos juniores
João, jogador de futebol nos juniores do Leixões, comentou com o pai que a sua equipa tinha jogado mal e que o Braga, que venceu a partida por 2-1, foi superior. O filho do empresário António Araújo (constituído arguido no processo "Apito Dourado") disse ainda que o árbitro até perdoou algumas grandes penalidades à sua equipa e que mesmo o golo de honra foi marcado na sequência de um fora-de-jogo não assinalado. O jovem jogador desconhecia, porém, que na véspera do jogo o seu pai andou numa correria para, alegadamente, obter favores do árbitro Francisco Vicente, prometendo-lhe que se beneficiasse o Leixões ficaria na 2.ª categoria.
Este é apenas um exemplo do conjunto de certidões extraídas do processo "Apito Dourado", que foram espalhadas por 30 comarcas do País, do Minho aos Açores, e cujo desfecho final (arquivamento ou acusação) não foi possível apurar. São vários casos que podem constituir uma espécie de "Enciclopédia da Corrupção no Futebol". E desengane-se quem pensava que este era só um fenómeno das principais ligas. Os indícios recolhidos pelo procurador Carlos Teixeira e pela equipa da Polícia Judiciária do Porto passaram (além da II Divisão B, cujo maior processo está em Gondomar a aguardar a abertura da fase de instrução) pela Liga de Honra, III Divisão, campeonatos distritais e de juniores.
Uma das situações diz respeito ao jogo Fafe-Vizela, da II Divisão B, época 2003/2004. Arbitrado por Pedro Sanhudo, terminou com a vitória do Vizela por 1-0. Três dias antes, Benjamim Castro, chefe do departamento de futebol do Vizela, perguntou a Sanhudo se podia "estar à vontade no domingo". "Dorme descansado", respondeu o árbitro. O relatório do observador detectou vários erros graves que prejudicaram o Fafe. Uns dias depois do jogo, Pedro Sanhudo comentou com Sérgio Jesus (também árbitro de futebol) as prendas recebidas: "Trouxemos um carregamento, Deus nos livre... que nem cabia na mala", descrevendo: camisas Ralph Lauren, camisolas Lacoste, calças Levis e caixas de vinho. Tudo para a equipa de arbitragem.
Pedro Sanhudo era presidente do Núcleo de Árbitros do Baixo Tâmega. E terá recebido muitas "prendas" para a associação: uma arca congeladora, uma impressora e até obras, por parte da câmara local onde estava sediada, Marco de Canaveses. Esta relação valeu ao antigo autarca Avelino Ferreira Torres a suspeita de peculato, por, alegadamente, ter colocado trabalhadores da autarquia a fazer obras na sede dos árbitros. A utilização de mão-de-obra da câmara foi confirmada por Pedro Sanhudo em conversa com um amigo: "Ele gastou lá dinheiro como o caralho naquela merda, e isso ele ajudou-me, mas isso já foi à parte. A câmara foi só a mão-de obra, a areia... E não era, não estava contratado isso, mas ele, prontos, ele conseguiu desviar lá areia e tijolo, aquilo também é barato. (...) De resto foi tudo nós e está ali uma obra de luxo." Numa vigilância, a PJ do Porto constatou que a sede dos árbitros estava em obras e que Avelino Ferreira Torres era quem as supervisionava.
Pedro Sanhudo surge também associado ao jogo Paços de Ferreira- -Marco de Canaveses, campeonato distrital de juniores. Uns dias antes, sugeriu a Avelino Ferreira Torres o nome de Óscar Coutinho, árbitro da sua "confiança". O ex-autarca ainda teve um encontro com o árbitro e sugeriu o nome à Associação de Futebol do Porto. Dito e feito, mas o Marco foi goleado por 5-1. E Óscar Coutinho confessaria, por telefone, a Pedro Sanhudo: "Mas aquilo não deu a mínima hipótese, um gajo ainda tentou empurrar, empurrar (...), houve foras-de-jogo que um gajo deixou seguir, eu de passes cortei tantos, o treinador do Paços de Ferreira até deitava as mãos à cabeça. (...) Eles se vissem os fora-de-jogo, os fora-de- -jogo que passaram! O treinador, eu nem expulsei o treinador do Paços de Ferreira porque ele tinha razão. Ele até punha as mãos à cabeça."
Outro caso: Gandarela-Arco de Baúlhe, para os quartos-de-final da Taça da Associação de Futebol de Braga, época 2003/2004. No intervalo do jogo, o árbitro, Vasco Vilela, disse a um elemento da direcção do Arco de Baúlhe que aconselhou os avançados da equipa a procurarem o contacto físico com o adversário: "Ó pá, tens que te enrolar com ele, caralho! Não é encostares-te a ele e deitares-te." Chegou a dizer que anulou deliberadamente um ataque do Gandarela, assinalando fora-de-jogo: "Foi na horinha certa, pá! Pronto... Vamos ver o resto, na segunda parte." Apesar de tudo, o Gandarela venceu o jogo por 1-0. E no final, Vasco Vilela desabafou com o mesmo dirigente: "Doze minutos que dei [período de compensação]. Nem assim."
Este é apenas um exemplo do conjunto de certidões extraídas do processo "Apito Dourado", que foram espalhadas por 30 comarcas do País, do Minho aos Açores, e cujo desfecho final (arquivamento ou acusação) não foi possível apurar. São vários casos que podem constituir uma espécie de "Enciclopédia da Corrupção no Futebol". E desengane-se quem pensava que este era só um fenómeno das principais ligas. Os indícios recolhidos pelo procurador Carlos Teixeira e pela equipa da Polícia Judiciária do Porto passaram (além da II Divisão B, cujo maior processo está em Gondomar a aguardar a abertura da fase de instrução) pela Liga de Honra, III Divisão, campeonatos distritais e de juniores.
Uma das situações diz respeito ao jogo Fafe-Vizela, da II Divisão B, época 2003/2004. Arbitrado por Pedro Sanhudo, terminou com a vitória do Vizela por 1-0. Três dias antes, Benjamim Castro, chefe do departamento de futebol do Vizela, perguntou a Sanhudo se podia "estar à vontade no domingo". "Dorme descansado", respondeu o árbitro. O relatório do observador detectou vários erros graves que prejudicaram o Fafe. Uns dias depois do jogo, Pedro Sanhudo comentou com Sérgio Jesus (também árbitro de futebol) as prendas recebidas: "Trouxemos um carregamento, Deus nos livre... que nem cabia na mala", descrevendo: camisas Ralph Lauren, camisolas Lacoste, calças Levis e caixas de vinho. Tudo para a equipa de arbitragem.
Pedro Sanhudo era presidente do Núcleo de Árbitros do Baixo Tâmega. E terá recebido muitas "prendas" para a associação: uma arca congeladora, uma impressora e até obras, por parte da câmara local onde estava sediada, Marco de Canaveses. Esta relação valeu ao antigo autarca Avelino Ferreira Torres a suspeita de peculato, por, alegadamente, ter colocado trabalhadores da autarquia a fazer obras na sede dos árbitros. A utilização de mão-de-obra da câmara foi confirmada por Pedro Sanhudo em conversa com um amigo: "Ele gastou lá dinheiro como o caralho naquela merda, e isso ele ajudou-me, mas isso já foi à parte. A câmara foi só a mão-de obra, a areia... E não era, não estava contratado isso, mas ele, prontos, ele conseguiu desviar lá areia e tijolo, aquilo também é barato. (...) De resto foi tudo nós e está ali uma obra de luxo." Numa vigilância, a PJ do Porto constatou que a sede dos árbitros estava em obras e que Avelino Ferreira Torres era quem as supervisionava.
Pedro Sanhudo surge também associado ao jogo Paços de Ferreira- -Marco de Canaveses, campeonato distrital de juniores. Uns dias antes, sugeriu a Avelino Ferreira Torres o nome de Óscar Coutinho, árbitro da sua "confiança". O ex-autarca ainda teve um encontro com o árbitro e sugeriu o nome à Associação de Futebol do Porto. Dito e feito, mas o Marco foi goleado por 5-1. E Óscar Coutinho confessaria, por telefone, a Pedro Sanhudo: "Mas aquilo não deu a mínima hipótese, um gajo ainda tentou empurrar, empurrar (...), houve foras-de-jogo que um gajo deixou seguir, eu de passes cortei tantos, o treinador do Paços de Ferreira até deitava as mãos à cabeça. (...) Eles se vissem os fora-de-jogo, os fora-de- -jogo que passaram! O treinador, eu nem expulsei o treinador do Paços de Ferreira porque ele tinha razão. Ele até punha as mãos à cabeça."
Outro caso: Gandarela-Arco de Baúlhe, para os quartos-de-final da Taça da Associação de Futebol de Braga, época 2003/2004. No intervalo do jogo, o árbitro, Vasco Vilela, disse a um elemento da direcção do Arco de Baúlhe que aconselhou os avançados da equipa a procurarem o contacto físico com o adversário: "Ó pá, tens que te enrolar com ele, caralho! Não é encostares-te a ele e deitares-te." Chegou a dizer que anulou deliberadamente um ataque do Gandarela, assinalando fora-de-jogo: "Foi na horinha certa, pá! Pronto... Vamos ver o resto, na segunda parte." Apesar de tudo, o Gandarela venceu o jogo por 1-0. E no final, Vasco Vilela desabafou com o mesmo dirigente: "Doze minutos que dei [período de compensação]. Nem assim."
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