sábado, setembro 02, 2006

Liga «engole» solução de Cunha Leal

Valentim Loureiro surge como o primeiro grande derrotado do caso Mateus. O ainda presidente da Liga viu as posições por si defendidas e implementadas passadas a ferro pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), com o beneplácito do Governo. O interesse público — solução preconizada por Cunha Leal a 28 de Agosto último — será invocado já na segunda-feira e a Liga vai ter de acatar as decisões do Conselho de Justiça (CJ) da FPF, algo que não fez, na passada semana...
Valentim Loureiro viu as posições defendidas pela Liga de Clubes completamente «trucidadas» na reunião de ontem. Depois de uma reunião que durou três horas entre Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto, Gilberto Madail, presidente da FPF, e Valentim Loureiro, presidente da Liga, ficaram traçados os contornos da decisão do caso Mateus. O interesse público vai ser invocado, face à decisão provisória do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa, e a sentença do CJ da FPF vai ser, sem mais delongas, implementada. Simultaneamente, a suspensão do Gil Vicente, já decretada no âmbito da FPF, vai ser alargada à Liga e à AF Braga.
Desta forma, reposta a legalidade desportiva e sancionado o Gil Vicente — e a extensão dos danos que o clube de Barcelos vai sofrer se não retirar o processo dos tribunais comuns ainda está por definir, estando sobre a mesa a possibilidade de uma suspensão de um a quatro anos — estão criadas condições para que a FIFA dê por encerrado o expediente contra a Selecção Nacional e os clube portugueses.

O erro da Liga
Se tudo tivesse acontecido segundo os ditames da Liga de Clubes, a primeira jornada da Liga Bwin teria tido no programa um Benfica-Gil Vicente, enquanto que na Honra se defrontariam Leixões e Belenenses, tudo isto à revelia da decisão irrecorrível de um órgão a que a Liga deve obediência, o Conselho de Justiça da FPF. Não fora um recurso do Leixões, reclamando para si a vaga deixada na Liga Bwin pela despromoção do Gil Vicente, que levou o CJ da FPF a suspender os jogos de Gil Vicente, Leixões e Belenenses, e a situação do futebol português, face à FIFA, seria ainda pintada com tons mais escuros.
Quando Valentim, repetidamente e perante as perguntas incisivas dos repórteres postados em frente à Secretaria de Estado do Desporto, se defendia dizendo que não tinha sido a Liga a suspender os jogos das primeiras jornadas dos dois escalões profissionais, mas sim o CJ da FPF, estava a omitir o mais importante: a Liga, em obediência a uma norma provisória de um tribunal comum — como se vê agora, errou ao não invocar o interesse público, como seria aconselhável (e quem tinha razão era Cunha Leal) — desrespeitou o CJ da FPF e manteve o Gil Vicente no primeiro escalão.
Valentim Loureiro, em gestão até que Hermínio Loureiro tome posse, abandona o poder com a credibilidade no ponto mais baixo de sempre, numa espiral negativa que começou com o processo do Apito Dourado. Por outro lado, a FPF e Gilberto Madail ganharam visibilidade e influência, arvorando-se como principais protagonistas das questões realmente transcendentes no futebol português. A inépcia da Liga, primeiro quando deixou que o caso Mateus fosse gerido de forma pouco recomendável na Comissão Disciplinar e depois quando tomou todas as medidas agora desautorizadas, fica como um dos pontos sublinhados a negro em todo este triste imbróglio.