Caso Mateus: Gil Vicente contestará interesse público
O Gil Vicente vai contrariar em Tribunal a tese de que as provas da Liga portuguesa de futebol são de interesse público, argumentando que "não se trata de invocar a saúde pública como sucedeu no encerramento das maternidades". Uma fonte da direcção da colectividade de Barcelos disse à agência “Lusa” que o interesse público dos campeonatos nacionais, que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai invocar junto do Tribunal Administrativo de Braga, "é muito relativo, dado estar-se perante provas desportivas, não essenciais à vida pública nacional". Além da resposta jurídica, que está a ser preparada pelo advogado José Luís Cruz Vilaça, em consonância com o departamento jurídico do clube, a colectividade estuda as possíveis sanções que lhe podem ser impostas pela Federação, entre as quais a de irradiação. "Analisamos, nomeadamente, a possibilidade de criação de um novo clube que venha dos regionais até à primeira Liga em poucos anos", adiantou uma outra fonte, que solicitou o anonimato. Outra das hipóteses em estudo, acrescentou a mesma fonte, é a de o clube vir a aceitar uma eventual compensação financeira para desistir da acção judicial, tendo em atenção, desde logo, que constituiu uma equipa para competir na primeira Liga com os consequentes custos em ordenados aos seus jogadores e equipa técnica. De imediato, segundo referem outras fontes, vão ser abertas - por iniciativa de vários associados - contas bancárias para que os sócios possam ajudar a direcção no pagamento dos custos das acções judiciais, quer as que estão em curso quer as que possam vir a ser interpostas. O caso Mateus mexe, também, com as forças políticas da cidade, embora todas elas se tenham remetido ao silêncio até ao momento, dizendo não quererem "misturar política com futebol". Apesar desta postura oficial é tido como certo nos meios próximos do clube o apoio incondicional da Câmara Municipal, gerida por Fernando Reis do PSD, à posição da direcção de "ir até ao fim no processo judicial". O autarca não quer, no entanto, pronunciar-se sobre o caso, não pondo de fora a hipótese de o vir a fazer no futuro. Contactado pela agência “Lusa”, o deputado social-democrata e vice-presidente da Assembleia da República, Fernando Pereira, disse que tem uma posição enquanto barcelense e associado, mas não a torna pública, "a não ser que alguém traga o assunto a debate em plenário". Já o parlamentar socialista Manuel Mota, também oriundo de Barcelos, diz que não se pronuncia enquanto político sobre o caso, dadas as diversas interpretações jurídicas sobre ele existente, mas diz-se "solidário com o clube enquanto associado, esperando que lhe seja feita justiça". Manifestando-se solidária com o clube, a Associação Comercial e Industrial de Barcelos, através do director geral João Albuquerque, revelou que "é o juiz que tem de decidir se está ou não em causa o interesse público". "Não é constitucional nem democrático que o futebol tenha regras de justiça próprias, diferentes das outras actividades", sustenta, garantindo que a FIFA não pode sobrepor-se ao Direito português ou ao Direito comunitário. João Albuquerque, que é também sócio do Gil Vicente, defende que a queixa deve ir até ao fim, "porque o clube venceu dentro do campo, tendo sido esbulhado na secretaria". A questão vai ser analisada, quinta-feira à noite, em assembleia geral, havendo, à partida, a ideia de que a maioria dos associados deverá votar pela continuação das queixas em Tribunal, a menos que - dizem vários associados e simpatizantes contactados pela agência Lusa junto ao estádio municipal local - "o clube seja devidamente indemnizado pelos prejuízos que lhe forem causados pela despromoção à Liga de Honra".
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