Depois da Maternidade, Barcelos luta pelo futebol
Primeiro foi a maternidade (encerramento do bloco de partos), agora é o Gil Vicente a lutar "com a força da razão", mas perante o risco de uma dura suspensão, ou mesmo de extinção. "É muito chato para a cidade", resume candidamente Susana Reis. Barcelos recebe hoje (21.00) no pavilhão municipal uma Assembleia Geral que prende o País: os sócios do clube decidem se mantêm a luta e o desafio à FIFA, à Federação Portuguesa de Futebol, aos poderes do futebol.
A cidade sente-se injustiçada e substituiu nas conversas de rua o caso da maternidade pelo caso Mateus. Em dois tons. Ontem, no centro histórico, ouvia-se o burburinho do receio. "A loja do Gil? Olhe, pergunte ali àquele, que trabalha no clube e é mais um a ir para a lista de desemprego..."
Uns metros à frente, só paixão, só princípios. "Fiz-me sócio agora, porque acho que é nestas alturas que o clube precisa. Acho que devemos continuar com esta luta até ao fim por uma questão de princípio, mesmo que isso implique a suspensão do clube", defendia Pedro Reis.
Tomás dos Santos, director do departamento de relações públicas que se tem deitado "às duas da manhã para acudir às inúmeras solicitações de novas adesões e actualizações de quotas dos sócios na loja, alinha: "O Gil pode pagar uma factura muito alta, mas a nossa luta é de interesse público [alusão ao requerimento da FPF para desbloquear as ligas profissionais]. Somos uma instituição desportiva de utilidade pública e têm de acudir aos nossos interesses."
Uma das formas que Tomás dos Santos encontra é "um dilatamento [da Liga] para 18 clubes". Uma concessão dos gilistas que "obtiveram no campo, desportivamente, o direito de jogar na liga principal". E é de concessões que se vai falando já, num tom mais moderado, pelas ruas da cidade - ao mesmo tempo que se enobrece a luta de António Fiúza, o presidente do clube do mártir Adelino Ribeiro Novo (antigo guarda-redes do clube, morto em campo e que deu o nome ao antigo campo de jogos).
O funcionário do clube que atrás indicava a direcção da loja do Gil Vicente, por exemplo, aponta esta síntese. "Se fosse na semana passada, a AG seria explosiva. Mas hoje as pessoas têm um pouco de receio das consequências. E já se fala em ir para a Liga de Honra, mas ganhar um dinheirito..."
Susana Reis explica os sentimentos vigentes na cidade com casos práticos. "Comenta-se que o clube é que vai pagar e muita gente vai para o desemprego, não só os jogadores", diz, por um lado. "Aqui no quiosque, o jornal A Bola [diabolizado na cidade por alegadamente defender o Belenenses] decresceu de vendas. O Nandinho [capitão do Gil Vicente] comprava todos os dias e, agora, nem quer ouvir falar nesse jornal".
É entre estes dois pólos que o pavilhão de Barcelos se vai encher esta noite. E com a polícia, que não revela pormenores, atenta à movimentação de massas na cidade.
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